“ PROFISSAO CAMINHONEIRO ”

Poderia ser médico, engenheiro, professor, mas por hereditariedade nasci caminhoneiro. E assim continuarei ate que meus músculos não mais consigam dominar a maquina e meus olhos não mais consigam enxergar as pistas. Serei caminhoneiro ate que meus ouvidos claudicantes não ouçam o som do motor rosnando feito gato selvagem nas Brs da minha pátria e que meu olfato não mais sinta o cheiro da fumaça, nem o odor da lona queimada na descida da serra da saudade.

Ate o fim serei caminhoneiro. Por quê? Profissão alguma, por mais nobre me dará a sensação de liberdade de que preciso e o direito de escolher meus próprios caminhos, como sempre faço. Que profissão me dará o prazer do minuano soprar o meu rosto, da brisa leve do Oeste balançar meus cabelos e o vento bravo do Norte fustigar meus olhos? Que profissão me dará o prazer de ser querido por tantas mulheres? De ser admirado por todas as crianças? De ser amado, odiado incompreendido, xingado bajulado?

Que profissão me dará a gloria de, quase ao mesmo tempo, contracenar ao vivo com os pampas gaúchos? As chaminés paulistas? O samba carioca, o misticismo baiano, as vaquejadas nordestinas, as congadas mineiras, as paisagens goianas ou a beleza indescritível dos pantanais mato-grossenses? Que profissão me dará o prazer de contar orgulhoso aos meus filhos e netos às epopéias vividas nos quatro cantos deste país-continente?

Quando morrer quero ter a glória de ser caminhoneiro em outra dimensão e, com um bruto enfeitado de nuvens e estrelas, transportar cometas e meteoros nas pistas invisíveis das rotas do espaço cósmico sideral. Crônica de Salomão Ribeiro 'Poeta caminhoneiro'